No Aglomerado Urbano de Jundiaí, o centenário Hospital São Vicente de Paulo é o único centro de referência de alta complexidade e disputa centímetro por centímetro os seus acanhados 11,4 mil m2 para atender 23 mil pessoas, com 1.250 mil internações, 575 cirurgias, ao mês, e 1,7 mil funcionários. O gasto mensal é de R$ 15,5 milhões, 69% deles bancados somente pela Prefeitura de Jundiaí. As reformas acontecem a pleno vapor, para aumentar a capacidade no pronto-socorro ortopédico e na quimioterapia.
Cada consultório aberto, mais uma cadeira quimioterápica, um alívio para um sistema que vive sobrecarregado. O HSV banca também os salários dos funcionários dos prontos-atendimentos nos bairros e do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Se controlar os gastos em um sistema mal financiado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) é uma dificuldade diária, ficou para trás o tempo em que os médicos tinham que escolher qual paciente iria receber um respirador e deixavam seus plantões para registrar boletim de ocorrência por falta de condições de trabalho. Segundo o superintendente, Matheus Gomes, a situação do hospital em 2017 era calamitosa, com dívidas de R$ 23 milhões a curto prazo, com atraso de salários e pagamentos de fornecedores.
Hoje, o hospital está com as contas em dia e quitou 80% deste débito passado. A primeira medida foi demitir funcionários, com redução de 10%. O prefeito Luiz Fernando Machado afirma que o HSV de hoje tem o número de funcionários que precisa. “Aqui, não há mais cargos desnecessários. O que antes era um cabide público não é mais. Não admito a ingerência política em um hospital filantrópico.”
Com redução de gastos na folha, gestão de pagamentos com descontos junto a fornecedores, o custo médio de internação no hospital caiu de R$ 9,5 mil para R$ 6,5 mil. As emendas parlamentares, no total de R$ 6 milhões, também ajudaram nas reformas que estão em curso. A maior delas, a troca de telhado, além de ampliação de ambulatórios.
O hospital foi pintado e os consultórios ganharam novo mobiliário, mas no calor intenso destes dias, os pacientes reclamam do ar-condicionado, que nem sempre funciona. O velho prédio não comporta a carga de energia elétrica.
O coordenador do gabinete de crise, Dr. Itibagi Machado, afirma que sabe que há falhas. “Não podemos consertar tudo de uma vez. Sabemos das nossas limitações.” O ortopedista Itibagi prevê, ainda neste ano, ampliação também do centro cirúrgico, das oito salas atuais para nove, aumentado a produtividade e diminuindo as filas para as cirurgias eletivas, principalmente para a colocação de órtese e prótese. Hoje, o local tem 95% de ocupação e uma produtividade 26% maior que dois hospitais de Campinas.
Andando pelos corredores do hospital, há pacientes que vêm de Minas Gerais, acidentes domésticos com idosos da Região e situações extremas, como pancreatite, em internações de longa duração. De portas fechadas, o HSV recebe pacientes referendados pela rede pública municipal e pelo CROS, do governo estadual. A UTI cardíaca é referência nacional e já ganhou prêmios internacionais.
Patrícia Pereira, 40, está há sete anos em tratamento de uma doença autoimune. Após a última quimioterapia, ela teve uma trombose abdominal e está internada. “Se não fosse pela Dra. Daniela, não estaria viva.” Mãe de um filho com deficiência, seu sonho é voltar para casa. “Sempre fui muito bem atendida aqui.”
Há, ainda, o problema crônico do hospital. Em plena quarta-feira havia 30 pacientes de pronto-socorro internados nos corredores. “A média desta internação é de 1,7 dia”, afirma Matheus. A gestão faz ainda pesquisa diária, pela manhã e à tarde, para saber o grau de satisfação destes pacientes de corredor. “70% deles aprovam o atendimento”, afirma.
Em plena crise econômica, o HSV tem recebido também mais pacientes oncológicos. De um ano para cá, o aumento foi de 40% entre quimioterapia, hormonoterapia e radioterapia. “São os desvalidos dos planos de saúde, principalmente idosos que não têm como pagar os altos custos dos convênios”, diz Matheus.