Com a palavra, o genocida
Uma pessoa em posição de poder que trabalha a serviço da morte é sim um genocida
É fácil perceber como o discurso de ódio está sempre presente em suas declarações. Segundo definição do dicionário, genocídio é um extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso e um genocida é uma pessoa em posição de poder que deliberadamente para que isso aconteça. Essa atuação pode ser direta, quando o genocida cria políticas de extermínio, por exemplo um ditador que manda seu exército matar todos os cidadãos de determinada etnia, como já vimos acontecer na história.
O genocida também pode atuar de maneira indireta, quando ele, podendo impedir a morte de um grupo de pessoas, decide intencionalmente não fazer nada. Mais, ao invés de tentar minimizar esse extermínio, o incentiva por meio de declarações violentas e cheias de paixão.
Direta ou indiretamente, uma pessoa em posição de poder que trabalha a serviço da morte de uma camada da população é sim um genocida. E uma pessoa assim se destaca pelo próprio discurso. É notório perceber em sua narrativa uma constante linha de raciocínio que tem como base principal o ódio. Mas o que um genocida diz? O que ele costuma falar? Qual o tipo de declaração que sai da boca de alguém assim? Resolvi listar para você. Com a palavra, o genocida:
"Temos de ser cruéis. Temos de recuperar a consciência tranquila para sermos cruéis";
"A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística";
"O erro da ditadura foi torturar e não matar";
"Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem";
"Morreram poucos. A polícia tinha que ter matado mil";
"Nós humanos não somos diferentes dos macacos, eles pisoteiam todos os invasores até que todos sejam eliminados";
"Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso";
"Qualquer aliança cujo propósito não é a intenção de iniciar uma guerra é sem sentido e inútil";
"Você não derrota um inimigo tirando sua coragem. Você o derrota tirando sua esperança";
"[O policial] entra, resolve o problema e, se matar 10, 15 ou 20, com 10 ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado, e não processado";
"Não tenho que pedir perdão a ninguém";
"Praticamente limpamos os comunistas do país";
"Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre";
"Não se pode colocar todos no mesmo nível. A igualdade é anti-natural e anti-histórica";
"Isto não é uma ditadura, mas sim uma ditabranda";
"Sou a favor, sim, de uma ditadura";
"O poder político nasce do cano da espingarda";
"Ou vão para fora ou para cadeia, esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria";
"Nada melhor do que descobrir um inimigo, preparar a vingança e depois dormir tranquilo";
"As pessoas que votam não decidem nada!";
"Pelo voto não vai se mudar nada nesse país";
"Não esperem nossas ordens, apenas lutem contra o inimigo";
"Eu tenho a cara azeda, por isso talvez digam que eu sou um ditador";
"A política é uma guerra sem derramamento de sangue; a guerra uma política com derramamento de sangue";
"Quem não puder combater, que desista e deixe outros comandarem"
"Trate seu povo como trata a uma mulher";
"Há muitos que querem que eu morra, mas não estou nem se quer resfriado";
"Eu estou os vendo de cima, porque Deus me pôs aqui";
"Deus está do nosso lado. Foi por isso que derrotamos o inimigo";
"As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha";
"Que sorte para os ditadores que os homens não pensem".
Todas essas frases são verdadeiras. Todas elas foram proferidas por notórios genocidas que assombraram a história da humanidade com suas políticas de extermínio. Você leu frases de Adolf Hitler, Joseph Stálin, Saddam Hussein, Pinochet, Mao Tsé-Tung, Benito Mussolini e do presidente da república, Jair Messias Bolsonaro.
O que é intrigante é que se eu te pedir para diferenciar essas frases, vai ser uma tarefa difícil, pois todas seguem a mesma lógica. A lógica do ódio. Se eu te pedir para me apontar a quem pertence cada frase, você também terá muita dificuldade se não recorrer à internet, mostrando mais uma vez o padrão do discurso. Agora, nada disso assusta mais quando você, após ler cada uma delas, não conseguir dizer com certeza quais não foram ditas pelo presidente da república.
E isso, diz muita coisa.
Conhecimento é Conquista.
FELIPE SCHADT é jornalista, professor e cientista da comunicação pela USP