Carlos Henrique Pellegrini: Copa, pão e circo
Foi a maior goleada em uma semifinal em vinte edições de Copa do Mundo. A derrota brasileira por 7 a 1 para a Alemanha, no dia 08/07/2014, no Mundial de 2014, em pleno Mineirão, com direito a “olé” e desaceleração no ritmo de jogo de nosso adversário, foi a maior derrota sofrida pela seleção brasileira em seus mais de 100 anos de história. Fora de campo, naquele mesmo ano de eleição para presidente, foi um duro golpe a já iniciada campanha de reeleição de Dilma Rousseff, o “poste”. A presidenta queria transformar a competição numa importante bandeira da campanha à reeleição e deu-se mal, mas assim mesmo acabou eleita em outubro daquele ano, com pouca margem sobre seu adversário, o tão suspeito quanto, para não dizer gângster, senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Mas as notícias ruins eram intermináveis. Segundo o balanço oficial do governo, foram gastos para o circo da Fifa R$ 25,6 bilhões em obras entre estádios e infraestrutura. Deste valor, cerca de 85% saíram dos cofres públicos. O orçamento de 2014 previsto para o Ministério da Educação era de R$ 42,2 bilhões, para o de Desenvolvimento Social era de R$ 31,7 bilhões e para o de Ciência, Tecnologia e Inovação era de R$ 6,8 bilhões. Como um governo que se dizia sério poderia gastar com um torneio de futebol 60% do que gastava com a Educação da população, 80% do que gastava com Desenvolvimento Social e 3,5 vezes mais do que gastaria com Tecnologia e Inovação? O Brasil deixou de arrecadar R$ 1 bilhão em impostos durante a preparação para a Copa do Mundo de 2014. O montante está ligado às isenções fiscais que o país concedeu à Fifa, seus parceiros comerciais e à construção dos estádios da competição. Passados quatro anos, aquela derrota ainda está nos corações e mentes dos brasileiros, mas nosso país mudou, e para melhor, mas a duras penas.
LEIA OUTRAS COLUNAS DE CARLOS HENRIQUE PELLEGRINI
CLIQUE AQUI E CONFIRA OUTRAS COLUNAS DE OPINIÃO DOS ARTICULISTAS DO JORNAL DE JUNDIAÍ
Mergulhados na maior depressão econômica desde 1929, democraticamente promovemos o impeachment de Dilma, desarticulamos o maior esquema de assalto aos cofres públicos que os terráqueos já viram, nos aprofundamos e fizemos crescer a operação Lava Jato, demolimos o engendrado projeto de poder Lulopetista e toleramos heroicamente o ex-presidente da República em exercício, Michel Temer. Não obstante, ainda hoje carregarmos a sensação de “ressaca” daquela vergonha futebolística. O legado negativo da Copa da Fifa em 2014, disputada no Brasil, coincidiu com o início da reinvenção da Pátria. Quanto à Copa do Mundo de 2018, na Rússia, é apenas mais pão e circo.
CARLOS HENRIQUE PELLEGRINI é professor universitário e diretor de Gestão Empresarial e de Sucessão Familiar da Maxirecur Consulting / pellegrini@maxirecur.com.br
Notícias relacionadas
-
09/12/2018
Chutando o balde – por Heitor Freddo (09/12/2018)
-
09/12/2018
José Renato Nalini: Desjudicializar é a meta
-
09/12/2018
Vania Mugnato de Vasconcelos: Repensando o final para viver desde o começo
-
11/11/2018
Chutando o balde – por Heitor Freddo (11/11/2018)