Nathália Mondo: São Bernardo, Paulo Honório e Madalena
Em 1934, Graciliano Ramos publicou seu segundo livro, aquele que viria ser a sua obra prima. As primeiras páginas de “São Bernardo” foram escritas na sacristia da igreja de Palmeira dos Índios, cidade em que morou durante parte de sua juventude e de onde virou prefeito praticamente por aclamação pública. Já tendo muitos filhos e sendo constantemente requisitado pelo seu cargo político, o padre permitia que o autor, ateu desde sempre, lá se refugiasse para escrever em paz.
Em “São Bernardo” a situação não é diferente. Essa é uma história de um homem e de uma terra. Unidos por sangue e atados a um mesmo destino. Paulo busca na fazenda que dá nome ao livro sua plenitude: salvando a terra, salvaria a si mesmo.
Por meios muito violentos e indignos, Paulo consegue comprar a fazenda e cerca-se de pessoas que poderiam ajudá-lo a melhorar seu ego e a terra. Paga jornalistas para elogiá-lo, tem advogados como amigos próximos sempre a aconselhá-lo, e carrega junto de si um jagunço, a quem trata como cão, para resolver seus problemas e garantir sua segurança. A muito custo, trabalho e corrupção, Paulo vence. Compra máquinas para São Bernardo, cria gado, planta mamona e algodão, manipula as eleições da região e manda matar seu rival. Faz aquilo que aquela sociedade exigia dele: prospera. Os meios usados: os comuns do Brasil de ontem e de sempre.
Mas a saga não está completa. De nada adianta ter construído tudo isso sem ter para quem deixar. Paulo precisa urgentemente de um herdeiro. Logo, precisa se casar. Busca as pretendentes como quem vai ao mercado escolher um produto pela embalagem. As pernas. As pernas tinham que ser bonitas.